#Dossiê/ Sítio Pedra Branca em Rio Seco é Referência na Produção e Certificação Participativa de Agr
O Sítio Pedra Branca, localizado em Rio Seco, Saquarema-RJ, de propriedade e cuidados do casal Fernanda Pontual Fracalanza, carioca, bióloga e Marcelo Furtado Gomes, técnico agrícola, mineiro, já possui uma história interessante relacionada à produção de orgânicos na Região e entra em nova fase atualmente, com grandes desafios pela frente!
Marcelo Gomes começa falando sobre o processo de surgimento da propriedade que, de acordo com Fernand a Fracalanza, foi literalmente aberta com a mão sua estrada. “Essa propriedade era plantio de côco, inicialmente. O antigo dono tinha uns 550 pés de côco aqui, ele engarrafava água de côco e levava para vender já no Rio. E quando a gente comprou a propriedade, ela estava abandonada há alguns anos. E estava no processo, acabando o coco e entrando no cultivo da banana. Aí eu continuei com o plantio de banana e fui colocando outras culturas. Eu plantei palmito pupunha, açaí, goiaba, ultimamente agora a gente plantou aipim. Voltamos a plantar mais bananas, e outras culturas, abacate, é uma agrofloresta , com a diversificação. “
Ele nos conta que “hoje em dia, fala-se muito em agricultura sintrópica. O nome mais moderno, do autor Ernst Götsch. Porque você aproveita o solo, aproveita a natureza. Ao invés de colocar adubo, você faz uma parceria entre eles. A praga que vem na banana normalmente não vem na outra cultura. Mas se você tem uma monocultura, você tem pragas. Tem competição. E assim desse jeito não. Não tem competição. Aí está formando substrato, formando adubo para o solo, é muita matéria orgânica, trabalho mais com podas”, diz Marcelo. A Agricultura Sintrópica trabalha com a recuperação pelo uso. Ou seja, o estabelecimento de áreas altamente produtivas e independentes de insumos externos.
De acordo com ele, são condições mais ideais, troca, diversifica, ao contrário de monointensificar a utilização do solo, o que reconhecidamente o empobrece, pela perda de nutrientes. Assim, “ esse tipo de cultivo está aumentando. Está tendo um tipo de divulgação maior sobre esse cultivo. Inclusive justamente por causa da questão da praga. As pragas em geral. Quando tem praga você tem que colocar veneno. Então você não vai conseguir nunca uma cultura orgânica porque você está colocando uma coisa na terra”, conta Marcelo Gomes.
Fernanda Pontual complementa dizendo que “não é necessário. E se tiver que utilizar uma coisa, ela tem que ser cem por cento natural. Não pode ter nada químico, pesticida, fertilizante, não pode ter nada disso”, diz.
Além da utilização da rotatividade de culturas no solo na produção de orgânicos e a agricultura sintrópica, o casal conta com a utilização e aplicação de um saber combinado e adequado de outras práticas, como a agricultura biodinâmica, milenar, por exemplo. “A gente tem plantado também, como aquele aipim, com agricultura biodinâmica. Colhendo de acordo com a lua, de acordo com os astros. É uma agricultura moderna. Moderna entre aspas, porque isso aí foram os egípcios que começaram. Milenar. Foi esquecido por causa dessa corrida para o modernismo. Tratores, máquinas, implementos, enfim, e aqui, no caso, a gente não tem como trabalhar com isso. Porque é uma área íngreme, morro. Aí não tem como trabalhar com trator. Aí, quer dizer, tem que voltar naquela dos índios. Porque eles já faziam isso, os índios. Podavam as árvores, cortavam, amontoava os matos”, explica Marcelo Gomes, lembrando também de uma cientista que experimentou a diferença entre esses tipos de agricultura durante várias décadas e conseguiu comprovar a eficácia. Um desses estudiosos é Rudolf Steiner, da área de Antroposofia.
No fundo, sobre rotatividade na produção da agricultura orgânica e em geral, na relação com a ciência, o ideal é a aproximação e foco multidisciplinar. Diferente da Europa, com esse paradigma, o Brasil parece se prender ainda à realidade do século XIX, das especializações. Em relação à agricultura biodinâmica utilizada por Marcelo Gomes e Fernanda Fracalanza no Sítio Pedra Branca, esta retorna ao milenarismo e volta para o paradigma do todo, integrativo, que é também o futuro. Diferente do paradigma do industrialismo do século XIX, fragmentado. Milenarismo e futuro, com um pé nas duas coisas. Inclusive as redes, a internet, as interfaces, fazem isso com o nosso pensamento na atualidade.
Sobre a produção no Sítio, o casal conta ainda com intensa participação no processo de Certificação Participativa com propriedades do entorno. De acordo com Marcelo Gomes, a Certificação Participativa se faz ao agregar produtores com esse fim em comum. No caso das propriedades no entorno do Sítio Pedra Branca “juntam, por exemplo, oito produtores, donos de propriedades e eu vou na propriedade dele junto com uma facilitadora, por exemplo, da Abio, que a gente é certificado por eles.”, diz Marcelo. Abio é uma associação biológica do estado do Rio de Janeiro, ela tem a concessão para certificar no Rio de Janeiro. O Sítio Pedra Branca é associado à Abio.
Existem vários tipos de certificação, segundo Marcelo Furtado. “ Quando eu vim para cá, o Marcelo já estava em um processo de ir nas reuniões sobre produção, também porque ele é técnico agrícola. Então ele ficou até doente trabalhando com veneno lá no Mato Grosso, com soja, em 1989. Ficou doente, teve que largar o serviço. Trabalhando direto com agrotóxico.”, conta Fernanda Fracalanza.
“Eu trabalhava no armazém, não trabalhava no campo. Eu ficava no armazém fazendo classificação de grãos de soja. Quase morri. Deu um problema no pulmão. Uma intoxicação. A partir daí eu corri de veneno. Eu estou nessa de orgânico, quero deixar bem claro, por princípios e ideais. Não é moda não. Minas eu já trabalhei com o pessoal da Universidade Federal de Viçosa, fiz vários cursos lá. Com esse autor Ernst Götsch mesmo, na época. Porque o pessoal olha assim e fala como se fosse moda agora, porque eu estou próximo aqui do Rio E estou vendendo. Não, eu sempre tive vontade de produzir coisa aqui, quando eu comprei o sítio. Esse preconceito com o orgânico é muito de desconhecimento também. Precisa mais informações e divulgação a respeito. Na verdade, uma cultura de valorização do orgânico.”, explica Marcelo Furtado.
Ele diz que saiu do trabalho como técnico agrícola, uma coisa mais intensiva. E atualmente objetiva produzir e comercializar o produto com qualidade. “É uma coisa mais lucrativa? É mais lucrativo. Eu não estou por causa do dinheiro. O dinheiro você precisa dele. É o que media as nossas relações. A gente vive numa sociedade que é mediada por ele e não tem como fugir. Mas tem formas e formas de fazer as coisas. À medida em que mais pessoas estiverem consumindo e com mais informações sobre o orgânico, você trazendo opiniões, mais gente consumindo, tem mais produção, o preço, a tendência é baixar. É a lei da oferta e da procura. Ah, as coisas orgânicas são caras. São mais caras, eu reconheço que é caro. É caro por que? Produz-se pouco. É, ainda é tido como um luxo. “ assegura Marcelo Furtado.
Na prática, a diferença entre a produção intensificada e orgânica em seus sistemas de produção passa também pelos preços diferenciados, sustentabilidade , além da forma de manejo do solo e planos de manejo.
“O orgânico comparado ao tradicional, que usa química, o tradicional é rápido. Produz rápido, e grande quantidade, só que com veneno, fazendo mal ao ambiente, fazendo mal para o ser humano, é complicado. Na verdade o produtor vai colher muito mais, porque ele vai botar o intensivo, não vai ter pragas, a quantidade de pragas vai ser pequena. Ele vai conseguir numa área grande produzir muito, em maior rapidez. Ele tem que vender aquilo. Então o preço não pode ser exorbitante porque senão ninguém vai comprar. Aí o preço é baixo”, explica Marcelo Furtado.
E continua, assegurando que “temos vizinhos aqui, por exemplo, que vendem banana na feira a R$ 2,50 o quilo. E às vezes R$ 1,90, como no supermercado. Não tem como a gente vender. Porque a nossa banana é de uma qualidade infinitamente maior. Ela tem todas as características originais da banana em um ambiente equilibrado. A gente tem água da nascente, lá em cima. Estamos localizados em uma área de nascente, é importante frisar. Essa é uma área que chove bastante, porque tem bastante vegetação. É mais fresco, conserva a umidade no solo. Se você olha ali onde a terra está limpa, o sol bate em cima. O que é que o sol faz? Ele estereliza a terra. Mata minhoca, mata os microorganismos do solo que fazem essa decomposição. Aí aqui não. Aqui está tudo coberto. Tudo roçado fica em cima da terra. Tem a umidade e ela vai se decompondo e vai virar terra. Rica. A gente ainda tem o galinheiro, que também contribui, por causa do esterco da galinha. O esterco precisa ser preparado. A gente não pode usar o esterco direto. Ele tem que ser quebrado, tem que ficar em um ambiente durante um tempo pra ele poder quebrar. Uma compostagem.. E a gente não compra nada de fora. Até da outra vez, a gente fez o Plano de Manejo da Abio. É auto sustentável.A gente dá pra elas comerem, aí elas comem as cascas, elas defecam e aí o ciclo continua. As bananas, corta as bananas já fica lá. Os palmitos pupunha. As cascas que a gente dá a elas ficam lá. Eu quero também dar uma poda no bambu.e levar pra onde eu cortei os palmitos pupunha pra repor os nutrientes, porque tirou do solo. Tirou o aipim, do solo, ele voltou como adubo químico. O adubo químico acaba sendo mais fácil porque você pega um saco assim e põe uma mão em cada. Eu já trabalhei com química. A quantidade é menor. Enquanto se você fosse colocar mato, podar, daria mais trabalho, daria mais mão de obra. E demora mais tempo para a planta decompor aquilo. Porque o adubo químico ele já vem biodisponível, ele está pronto ali para absorção rápida. É uma competição assim desleal. E por isso acaba que a produção é mais rápida. O que encarece. Mas aí a relação com o preço é isso. Quer dizer, tem mais qualidade, enfim. E é caro esse veneno que eles usam. Sei lá, é 300 reais, uma coisa assim. E o Glifosato, que é a base do Randap, o genérico , esse é conhecido, lá fora ele foi proibido ”, continua Marcelo Furtado, explicando detalhadamente o processo da produção orgânica do Sítio, fundamental para sua valorização e maior conhecimento, tanto da produção como certificação. O casal está no segundo ano de certificação. E o certificado já foi renovado
Sobre a infraestrutura do Sítio, Marcelo e Fernanda explicam que “a gente tinha essa telha, já trocou, olha. É reciclado. Prateada. Ela é de Tetra Pak. A parte prateada é a de dentro da caixa do leite, ela é prensada, e feita uma telha. Olha de pertinho que você vê. Ela por baixo é coloridinha e por cima é tipo alumínio. E aí a parte do alumínio fica para cima.Tinha a ideia de fazer em tudo, mas acabou que por recurso a gente só fez lá. Energia solar, também, pensa, a gente pensa. A gente quer um monte de coisas. Não sei se a gente vai conseguir tudo. A gente quer captar água da chuva. “
Fernanda e Marcelo tem esses projetos também. Segundo Marcelo Furtado, “é porque como já tem uma ideia de modelo de negócio nesse sentido, é avançar nessa direção. E ser um exemplo, mostrar para as pessoas que está dando certo. É por duas coisas. As pessoas estão pelo ideal e outras veem o exemplo, que a pessoa está dando certo. ‘Ah, eu vou copiar o exemplo e vou fazer no meu sítio’. “ O casal tem esse objetivo bastante claro e trabalham muito em várias frentes para isso. Não só em termos comerciais, mas em termos de modelo de negócio, criando referência. .
Fernanda Fracalanza nos traz a questão da certificação como extremamente importante nos dias atuais. “Porque tem muito picareta. Então é uma forma. Na verdade misturam um monte de coisas e não sabem quais são as regras. Porque existem regras. A gente tem que cumprir. Algumas coisas não podem. Não pode ter fogo na propriedade. Algumas coisas não podem. O nosso tipo de certificação, a gente faz vistoria todo mês na propriedade do outro. São oito pessoas. Oito propriedades, em rede, interligados. Todos associados. Então a gente é obrigado a participar de uma reunião mensal. A gente é obrigado a fazer uma vistoria mensal.Então essa vistoria é sempre feita na casa de alguém. Regras da associação Abio, Associação biológica do estado do Rio de Janeiro. Todo mundo paga uma mensalidade. O certificado é emitido por ela. Todo ano renova. Tem o aval do ministério da agricultura para ser certificadora. E para ela entrar nessa, também teve que passar por alguns processos. E existe esse tipo de certificação. Existe a certificação por auditoria, que vem um técnico, um mestre um doutor, alguém da área. Vai numa propriedade, cobra uma taxa, e vai fazendo a vistoria. Sei lá, três mil/cinco mil reais. Concorda ou não concorda? A Abio mesmo é uma associação. Ela foi criada sem fins lucrativos. É uma ONG”, explica criteriosamente Fernanda.
E continua dizendo que “existem vários tipos de certificação. A SPG- Sistema Participativo de Garantias – é participativa. Essa é a que fazemos. Por exemplo, eu sou um certificador. Eu vou na propriedade da pessoa, eu mais outro. A gente tem que dar o nosso aval se a gente concorda ou não. O selo é o CISORG, que é do governo. E nesse selo vai estar lá: Ôrgânico. Sistema participativo. Que é o nosso sistema.Ou então, o selo, sistema por auditoria. A gente escolheu esse por que? Porque esse é o modelo mais barato. Porque a gente não tem sei lá 5/6 mil pra fazer isso. E é uma forma de a gente estar trabalhando em comunidade. De a gente estar visitando outras propriedades.Trocando informações, trocando sementes. Trocando um monte de coisas, interagindo.Pegando ideias, porque eles vem aqui também. E dentro disso vocês fortalecem o sistema de certificação. “, explicitando um sistema muito rico, criterioso, participativo e democrático de certificação de produção de propriedades de produção orgânica.
“Não é que a gente é delegado nem nada. Mas é necessário né?! A pessoa chegou aqui, tomar um café, fazer uma reunião aqui no meu sítio, por exemplo. Aí, vamos ali, depois a gente dá uma volta na propriedade. Aí ela vê as bananas. Ah, eu to plantando aipim, aqui que eu to plantando aipim. Porque daqui há um ano eu vou ter o aipim. Mas se eu não plantei o aipim aqui, como eu vou ter o aipim? Apareço lá de repente vendendo o aipim? O certificado tem tudo que a gente possui. Se sair um pouco disso, vai estar se utilizando da certificação pra fazer uma fraude. A ideia é evitar essa fraude no Sistema. Necessário, lógico.“, diz Marcelo Gomes.
Sobre o processo de produção, Fernanda Fracalanza nos conta da dificuldade em manter mais de uma atividade não concentrada ao mesmo tempo, pois há a necessidade de dedicação quase exclusiva para uma produção orgânica de qualidade e referência, como a que propõem e fazem atualmente. Diz Fernanda que “ a gente abriu mão de ter loja, estava complicado, produzir e comercializar. Como a gente vai produzir e ficar no comércio todo dia? Não temos perfil. Porque eu também sou da área da terra. Ficar lá no comércio o tempo todo. É, quando você vende, você tem que terceirizar a produção. Aí sai da qualidade, que é o que tem mais know how. A atividade de comercialização, vamos dizer assim, não é inferior, mas é outra coisa, mais fácil. Não vamos desvalorizar os trabalhos. A questão é que a qualificação exigida e o conhecimento é um pouco diferente”, explica Fernanda Fracalanza.
Marcelo Furtado nos conta que já vendia em Santa Teresa/RJ. “Meu irmão morava lá, eu ia muito lá pra Santa Teresa. Eu chegava lá, eu dava banana pra um, dava banana pra outro. Isso no começo do sítio. Aí fui criando clientela. O pessoal dizendo: não Marcelo, traz banana pra vender. Aí eu comecei, por conta das pessoas me conhecerem, confiavam no produto. Todo mundo comprava como um produto orgânico. Eu não era certificado ainda. Foi um processo, eu me certifiquei. E aí agora, eu levei, mostrei pra todo mundo. Tem algumas pessoas lá em Santa Teresa que compram. Aí eu levo. Hoje as pessoas dão parabéns. Atualmente a gente está com um modelo de entregar para cestas. Tem três cestas que a gente está entregando hoje.”, diz Marcelo Furtado
“A gente ficou parado um pouco porque a época do inverno diminui a quantidade de coisas, justamente porque a gente precisa aumentar a produção. Porque existem as culturas de inverno. O Sistema Participativo de Garantia (SPG), da Abio, em Saquarema, é novo” diz Fernanda Fracalanza.
“O pessoal da auditoria e do Ministério Público veio aqui a semana passada no sítio. O Ministério da Agricultura resolveu fazer uma auditoria no estado do Rio de Janeiro. Sorteou a gente. E aí descobriu que o nosso grupo era um grupo novo. A gente foi criado há pouco tempo. O SPG, Sistema Participativo de Garantia, da Abio, em Saquarema, é novo. Então eles resolveram fazer uma pincelada e vieram aqui em casa. Aí quinta feira passada a gente recebeu a visita deles. Em agosto de 2016, o Ministério da Agricultura em auditoria no estado do Rio fez uma visita aqui no sitio dando parecer favorável para as nossas culturas orgânicas. Nossos produtos são certificados e recebem sempre fiscalização. Esse negócio de orgânicos ė sério minha gente.” ressalta Fernanda Fracalanza, lembrando da importância da cultura de valorização do orgânico.
“E mais essa parte burocrática das pessoas, dos produtores, no caso, ter o controle de quanto está produzindo. Estou falando sobre isso por conta dos custos, para ver se está valendo a pena a venda final. E aí foi ótimo que eles vieram, deram várias dicas. Achei muito bom. Achei ótimo. E aí a gente vende nosso produto numa feira orgânica. Então a gente dá um recibo. E nesse recibo tem que conter as informações de quem está vendendo o produto. É tipo uma consultoria “, diz Fernanda.
“Já teve o problema de um cara. Estava no certificado um monte de coisas, ele foi lá e pegou de alguém. Eles foram fazer uma fiscalização, o produto estava contaminado. De onde vinha esse produto? Não sabiam de onde vinha. Então a gente tem que ter tudo, tem que ter o documento. A gente vende uma coisa tem que estar lá: Sítio Pedra Branca. Porque aí se chegar na mão de alguém: Quem foi que te vendeu isso? Foi o Sítio Pedra Branca. Entendeu? A gente, por exemplo, tem galinhas. As galinhas não são orgânicas, ainda. É, porque come o milho transgênico. Não tem milho orgânico aqui no Rio de Janeiro, praticamente. Então as galinhas a gente não consegue.”, explica.
Sobre a diferença prática e conceitual entre a cultura orgânica e transgênica, Fernanda Fracalanza diz: “O conceito de orgânico é esse aproveitamento desse ciclo, vamos dizer assim, esse retorno.É isso? Esse autosustentável. Falar um pouquinho desse conceito. Vamos lá . O que significa o orgânico? O orgânico, não tem nada industrializado no produto. Nada químico entra no processo. Se tiver alguma coisa são coisas que são naturais. Autorizadas. A homeopatia no campo, por exemplo, são coisas que facilitam o processo natural daquele ambiente. Não vai ser um NPK da vida que vai ser jogado ali, nada contaminante. Isso é o orgânico. Respeitar as normas. Já o transgênico, eles pegam a molécula e fazem alterações. Para produzir mais. O mamão, por exemplo. O mamão às vezes dá umas pintas. Aí vão lá no DNA e modificam. A pinta do mamão não pode ter essa pinta. Eles vão lá, modificam molecularmente, põe uma resistência ali na pinta e inserem lá na semente isso, e aí vão plantar e aí vai nascer uma coisa modificada.Só que a gente não sabe até que ponto isso é bom.”
Sobre a polêmica em relação aos transgênicos, Marcelo Furtado é enfático ao afirmar que é um processo complicado, não muito bom. “Eu sou a favor das sementes criollas. As sementes antigas, como aqui em Araruama.” Para Fernanda Fracalanza, “se está mexendo na essência da vida. Semente natural, tradicional. Por exemplo, a gente não tem mais milho natural aqui no Brasil. Só tem lá no Sul. O resto do milho está todo transgênico. É uma coisa muito falada na imprensa, até internacional. O milho como ele foi criado. Tá certo que o meio ambiente ele se transforma, evolui. Mas tem que ser um processo natural. O processo de evolução é um processo lento. O trigo também foi muito transformado. Tudo bem, eu não sou contra a biotecnologia, como bióloga, claro. Eu não sou contra, mas acho que você tem que saber muito bem o que está fazendo. Às vezes tem que fazer muita pesquisa para poder ver o resultado ali na frente. Não pode sair fazendo assim de qualquer maneira. Aí é complicado.”, diz Fernanda.
No universo da produção da propriedade, Fernanda afirma que tem mais ou menos uma ideia desses dados e que é relativo e sazonal. “No inverno essa produção cai bastante, principalmente porque a grande parte da cultura é banana. E a banana, por incrível que pareça, ela não dá o ano inteiro. Você acha que dá, né? Mas no inverno tudo fica mais lento, entendeu. A gente tem o selo para vender in natura. Vendemos nas cestas, por encomenda e lojas parceiras, como a Kerala, loja de produtos naturais e orgânicos, no centro de Saquarema. Banana in natura, goiaba in natura, comercializada in natura. Ela separou uma estante, lá (na Kerala) dos produtos naturais. A gente poderia, vamos supor, sobre a nossa geleia, colocar o selo: esse é orgânico. Chamado CISORG. Só que para a gente ter aquele selo a gente teria que certificar também a cozinha. “
Então, “aí tem que vir primeiro a vigilância sanitária. A gente até construiu a cozinha justamente para isso. Para a vigilância sanitária vir, depois a Abio vem e certifica a nossa cozinha. A cozinha está pronta praticamente, novinha ali. A gente quer dar o próximo passo. E é muita burocracia“, diz Marcelo Furtado.
O casal reconhece estar criando condições bastante boas e favoráveis para esse processo. ”A gente ia lá para comércio, não tinha mais tempo para fazer isso. Aí agora a gente está arregaçando as mangas Tudo tem que ficar na cozinha fazendo. Fernanda conta que “ Marcelo criou um doce de banana maravilhoso, sem açúcar, sem nada. Banana com canela, só. Só que, no inverno, a produção desse doce também diminui porque a banana madura, ela demora para amadurecer. Porque a gente não põe nada, a gente não põe nenhum produto na banana. Tem gente que põe um produto na casca da banana e ela fica amarela em dois dias. Então a banana por dentro está verde”, diz.
É muito importante destacar a importância da educação e cultura para a produção, consumo e conhecimento do orgânico. Fica como uma coisa para quem conhece, é especialista. Se for para vender a um público externo, ele tem que entender um pouco desse processo para comprar e saber o valor. O casal está no segundo ano de certificação. O certificado já foi renovado.
“É uma cultura também que precisa ser difundida. Na verdade, se quiser aumentar a produção. Porque se passa a entender da cultura, e conseguir mais clientes. Aqui em Saquarema é meio complicado. Meio complexo fazer isso. No Rio, lá em Santa Teresa, a gente já tem um público mais selecionado. Pessoas nessa área, tem engenheiros florestais, pessoas que gostam do orgânico, compram por causa da saúde. É R$ 2,50. A gente vendia banana, só para você ter ideia de custo, a 4 reais lá na Kerala. Era uma luta.Você vendia 10 kg de banana por semana. E a tradicional, 2,50. Lá no Rio eu vendo a 6. Por exemplo, e as pessoas dão valor. Aí você chega lá, as pessoas pegam aquelas que estão despencadas. Aqui as pessoas falam: ah, banana despencada não quero. Tá feia. Banana com veneno ela não despenca. Tão rígida. Aí quer dizer, o mercado força o cara a usar veneno porque não quer que a banana despenque. Aí o dono do mercado não vai comprar banana que despensa senão vai ficar lá na prateleira. E não vai vender. Por falta de informação”, conta Marcelo.
E prossegue “é uma cultura profissional, e ao mesmo tempo uma cultura do interesse. Mas para gerar uma amplitude tem que difundir. Criar mecanismos de difusão. Escolas, matérias para os alunos, trazer o jornalismo, etc. Porque está tão carregado. Existem conceitos e termos que estão tão carregados que, para desconstruir isso, precisa um trabalho de imprensa ou educacional. Mídia e educacional. São as duas coisas. Porque a mídia também presta serviço educacional de formação ou deformação. Então a mídia ou informa ou deforma. “, conclui.
Sobre a nomenclatura, diz Fernanda que “quando é inorgânico não tem carbono. A diferença do orgânico para o inorgânico é que o orgânico tem carbono. Essa é a diferença. E o inorgânico tem outros minerais, e não necessariamente o carbono. Tem níquel, tem ferro, tem silício.”
Marcelo Furtado conta a respeito da participação na formação de um grupo agroecológico ”a gente formou um grupo agroecológico. E depois certificou. Pessoas que produzem à moda antiga. Tem um vizinho nosso que produz mel, tem banana, ele não usa veneno também. Não é certificado. Tem pessoas que produzem e não querem ser rotuladas. Às vezes a pessoa não quer se associar, aí tem que pagar uma taxa. Tem essas regras. Como eu fazia antes, eu era orgânico. Eu pensava que orgânico era coisa de outro mundo”, diz Marcelo Furtado.
O Sítio Pedra Branca está em fase e processo de crescimento e foco na qualidade da produção de seus produtos, a princípio, in natura. “Além disso, a gente quer receber visitas do Rio também. E formar opiniões. Acho que é o mais importante. Mais pessoas seguirem. A ideia é essa, a gente quer ter a oportunidade de receber as pessoas aqui, ver a nascente, fazer uma trilha. E isso tem que ser divulgado. Temos uma trilha leve. Ela não é uma trilha pesada. Tem uma água lá em cima, muito boa. Tem uma vista muito bonita. Daqui dá para ver o mar! Se você subir ali no alto da propriedade dá para ver a igreja lá de Saquarema. Quer dizer, a estrada está logo ali. Dá, dá para ver a estrada Então, quer dizer, já tem essa altitude, em termos de localização, e que é privilegiada.”
Como difusor e referência da cultura e produção orgânica, venda de produtos in natura e da certificação participativa, o Sítio Pedra Branca tem grande relação com os não certificados também. “Que também fazem parte, que é da cultura do local. Importante o fortalecimento de laços, que não passam só pela certificação.”, diz Marcelo Furtado.
O Sítio Pedra Branca conta ainda com um documento chamado Plano de Manejo. “A gente tem que falar nesse documento tudo que a gente tem. Quantidade de plantas, de árvores. O que a gente quer plantar, o que a gente quer fazer. Então é um documento comprido, que a gente fala tudo, de onde vem a água, o que faz com o esterco da galinha, lixo, adubo, para onde vão os resíduos. Toda essa informação tem que ser colocada para poder ter um documento. Se tem funcionário. Se é a família só que trabalha. Se o funcionário é carteira assinada. Se mora na propriedade “, explica Marcelo Furtado.
“Mas eu curto muito esse caminho. É um caminho muito bonito. Estamos na mata virgem e área de nascente. Vai lá em cima, quando você chega lá no alto praticamente você vê Cabo Frio, Boa Esperança, Rio Bonito, você vê tudo lá do alto. Vê-se que é o Maciço da Pedra Branca. Esse maciço vem de Maricá, ele vindo do Rio. Inclusive a gente está em Saquarema, e falando de Turismo, é uma área muito pouco aproveitada. A gente sabe que na Europa e outros lugares com bem menos eles tem um aproveitamento maior.” diz Marcelo Furtado, pensando no turismo presente e futuro , o potencial do sítio e seus aproveitamentos.
Saquarema possui muitos desafios em sua área de Turismo. O Sítio Pedra Branca, referência na produção e certificação participativa de orgânicos, oferece caminhadas ecológicas, vivências e consultorias. Mas em pequena escala e combinado. Marcelo Gomes conclui falando um pouco desses desafios turísticos na cidade em geral.
“Aí é que está. Saquarema é uma área de morador. São pessoas que moram e querem que mantenha. Por exemplo, Show do Luan Santana recentemente aqui, com grande público externo, muita gente já achou um absurdo, porque aquilo foi o extremo do extremo. Imagina...é a síntese do Brasil. Que a gente não resolveu certas coisas. E ao mesmo tempo fez Olimpíadas, fez Copa. Então, mas também passa por esse lado. Imagina, temos mata virgem aqui, vir um grupo imenso e, de repente polui... vamos ficar sem infraestrutura. Quem mora aqui não procura isso, quer mais tranquilidade.” , reconhece Marcelo Gomes, ao mesmo tempo em que conclui ser necessário pensar em soluções que contemplem a todos os setores nessa área turística, para melhor aproveitar seu enorme potencial de forma harmônica e equilibrada, com respeito à história e estrutura local.
Contatos e Atividades
Sítio Pedra Branca Orgânicos. Produtos Agroecológicos, Consultoria & Vivências
Endereço: Estrada do Rio Seco, 12. Saquarema –RJ. Propriedade 11. .
Fernanda e Marcelo
Tel/Zap: (22) 999560890 / (22)998630544
pedrabrancaorganicos@gmail.com
Vivência – Inclui Ida e café da manhã ou almoço e lanche. Consultorias, produtos orgânicos. Trilhas. Entrega de aipim, bananas diversas, acerola, carambola, doces caseiros, ovos caipiras, manga, cajá, palmito pupunha, erva doce, manjericão, orégano, funcho, erva doce, mamão, jaca, frutas, ervas, entregar ou buscar. Área de nascente – caminhada ecológica.